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“Quando foi na segunda, terceira semana de setembro, foram surgindo os casos. Foi aumentando e a gente detectou que, realmente, não era uma coisa normal”, explica a agente de saúde Claudemora Ramalho.
Em Teixeira, no sertão da Paraíba, em setembro do ano passado, começaram a surgir os primeiros casos de hepatite A, que é muito diferente das hepatites B e C. Ela é transmitida por água e alimentos contaminados pelo esgoto. É uma doença característica dos locais onde falta saneamento, como é o caso de Teixeira.
“Meu filho começou com sintomas de hepatite há um mês, mais ou menos. A nossa água de consumo vem da chuva e do caminhão pipa, que abastece aqui. A gente lava o reservatório uma vez ao ano para poder colher a água da chuva”, conta uma mulher.
Claudemora Ramalho, agente de saúde, está empenhada em descobrir o foco de transmissão da hepatite A: “Nós vivemos em uma região que não tem chuva constante, a água que é encanada é racionada, então todo mundo precisa ter reservatório em casa. Nessas redes, nessas cisternas, que a gente está detectando um maior problema, porque a água que é encontrada na cisterna, que é coletada, ela não está própria, ela está insatisfatória. E a gente acredita que é por falta de limpeza nessas cisternas”, explica Claudemora.
Para chegar às cisternas, a água da chuva cai pelo telhado em uma calha e vai para uma tubulação, que leva direto à cisterna. Nela, a água da chuva fica coletada e serve para a família beber. O certo seria lavar a cisterna a cada seis meses. Mas como fazer isso? Para lavar a cisterna precisa esvaziar, esvaziar seria jogar a água fora. Mas a água é uma preciosidade nessa região, então as famílias acabam não lavando essas cisternas.
Como a gente pode se defender da contaminação? A melhor forma é: toda vez que você for mexer com água da cisterna, antes lave a mão com água e sabão. E lave também o balde que vai ser usado para retirar a água, com água e qualquer sabão.
Exames feitos na água das cisternas mostram que ela estava contaminada.
Dos três filhos do agricultor Damio Jos Alvez, Vitória foi a única que teve hepatite: “Eu percebi que ela estava doente quando a minha mulher percebeu que ela estava com a urina diferente e falou para mim. Ela ficou com uma urina meio vermelha, e o olho ficou um pouco amarelo”, conta Damio.
O olho amarelo é chamado de icterícia. “Quando você se infecta com o vírus da hepatite A, o vírus se replica no intestino, penetra, vai para a corrente sanguínea e passa a se replicar no fígado. No fígado, ele causa lesão, o que dá ao indivíduo sensação de mal estar, náusea. Cerca de 20% a 30% desenvolvem icterícia, os olhos amarelos, ou a colúria, que é a urina escura. Na Bahia se fala muito ‘cor de azeite de dendê’ ou ‘cor de guaraná’ também”, explica o hepatologista Raymundo Paraná.
O agricultor Damio Jos Alves questiona o Doutor Drauzio: “Doutor, só uma perguntinha, por favor. E hepatite mata?”. “Muito difícil. A hepatite A é uma doença muito benigna, especialmente nas crianças pequenas. Adultos, mulheres grávidas, pessoas mais velhas, uma pequena porcentagem, um pequeno número de casos têm o que a gente chama de hepatite fulminante, que é muito grave, evolui depressa e tem mortalidade alta. Mas geralmente a hepatite A tem uma evolução benigna, é uma doença que acaba bem”, explica Drauzio Varella.
Nessa série falamos sobre as hepatites, um problema de saúde pública muito grave. Você viu que as hepatites B e C são transmitidas, principalmente, por instrumentos contaminados, mas também pelo sexo e para o bebê na hora do parto. Hepatite B tem vacina, a A também, mas não existe vacina contra a hepatite C.
Como as hepatites B e C podem se tornar crônicas é fundamental fazer o exame de sangue para saber se você é portador do vírus. Se for, pode ser tratado gratuitamente pelo SUS e ficar livre da doença. Faça o exame.
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