Televisão, telefone, fone de ouvido, computador, MP3, Orkut, Twitter, Facebook, MSN, SMS. A conexão é on-line e os estímulos vêm de toda parte. No monitor do laptop ou no visor do celular incontáveis telas são abertas, reduzidas e fechadas em segundos. Surge uma nova linguagem, na qual a grafia das palavras é adaptada, simplificada, e prevalecem abreviações. A informação chega descontextualizada e truncada, inaugurando um novo jeito de compreender o mundo – e se relacionar, na horizontalidade do conhecimento – e caracterizando a chamada geração zapping (expressão de origem inglesa que se refere ao ato de mudar constantemente de canal).
Surge assim um novo jeito de pensar, graças à síntese de vários dados coletados de forma imediata e simultânea. O zapping tipifica justamente essa relação intensa e aparentemente inesgotável. Fragmentados os corpos, a informação e as relações, os jovens ficam à mercê dos estímulos, sem tempo para a introspecção e assimilação do bombardeio de conteúdos. O apelo ao mundo externo é intenso e vem de todos os lados.
Enquanto para a maioria daqueles que já passaram dos 30 anos a simultaneidade (tudo ligado ao mesmo tempo) é vivida como estressante, adolescentes parecem não se incomodar nem um pouco em receber vários estímulos concomitantes. Não por acaso, a expressão “tá ligado?” é bastante usada por aqueles que não chegaram a conhecer o mundo antes do computador.
São visíveis sua rapidez e destreza em localizar e selecionar informações, bem como esta agilidade em zapear o mundo, coletando os mais diversos dados, nas diferentes fontes.
O som permanece ligado enquanto leem, telefonam, trocam mensagens pelo computador, assistem à televisão. E, para desespero de muitos pais, até quando estudam. Por mais difícil que seja para alguns adultos compreenderem, o fato é que os jovens estabelecem uma forma singular de vínculo com o exterior: suas referências são de curta duração também pela necessidade de se diferenciar da maioria. Assim, modismos e cultos a ídolos deixam de ser parte do ideário de uma geração e passam a ser apenas objetos de diversão pura e simples. A expressão ídolo de uma geração pode não fazer mais sentido. A ideia do ídolo como símbolo de uma forma de pensar e viver ou modelo de identificação parece mais ligada a décadas anteriores. Assim como outros aspectos do cotidiano, o entretenimento é descartável e, como tal, passa rápido.
O rapaz que nas férias passadas era surfista poderá adotar o visual emo no próximo fim de semana, alterando rapidamente seus hábitos, pôsteres porventura afixados na parede, estilos musicais preferidos, locais que frequenta etc. Nesse momento em que a transitoriedade impera, não há estilos definitivos.
O mesmo ocorre com relação às drogas: entre a geração dos anos 60 e 70, por exemplo, o uso frequentemente estava associado à contestação e aos ideais de liberdade de expressão.
Atualmente, é mais um objeto de consumo, voltado ao prazer mais pragmático e objetivo. O psicanalista americano Christopher Lasch reconhece este momento como resultante de uma espécie de cultura de consumo, que acaba por debilitar a própria capacidade dos indivíduos de discriminar fantasia de realidade, já que, como em um caleidoscópio, surgem a todo momento novidades que despertam novas necessidades.
Todo indivíduo nesta sociedade parece ser elo de múltiplas redes de comunicação, informação, interpretação, divertimento, aflição e evasão. Os movimentos e centros de emissão estão dispersos, desterritorializados pelo mundo afora. Principalmente para jovens das classes mais baixas, com menos acesso às evoluções tecnológicas, a televisão oferece scripts sobre os papéis sociais, gênero, gratificação social, sexual, lazer, resolução de conflitos e valores. Publicado nos Estados Unidos, o relatório Growing up in the prime time: analyses of adolescent girls on the television examinou mais de 200 episódios de programas para adolescentes e constatou que a aparência deles é considerada mais importante que sua inteligência; meninas cultas que gostam de estudar são exibidas como socialmente desajustadas; elas são mais passivas que seus colegas do sexo masculino. E frequentemente o jovem é retratado como obcecado por compras, pela própria imagem, excessivamente voltado para a vida amorosa e pouco interessado em conversas sobre questões existenciais, acadêmicas ou mesmo profissionais. A falta de senso crítico, aliada à ideologia do consumo, tem gerado também uma tendência à banalização da posse material, uma vez que aparelhos tecnológicos acabam assimilados como móveis e utensílios
da casa, e passa a importar pouco ao jovem onde as informações são obtidas, contanto que sejam acessíveis.
A rapidez e o fracionamento da informação são incorporados ao cotidiano dessa geração; o mergulho nessa realidade não se dá no meio, mas entre os meios. Valoriza-se a narrativa curta com significado quase imediato. Há uma aceleração temporal conciliada à fragmentação espacial. A televisão é considerada ao mesmo tempo invisível e onipresente, ainda que apareça como
coadjuvante nos bares, restaurantes, no intervalo da escola e em vários ambientes da casa. É o jovem que capta dados nas incursões aos diferentes campos de informação quem vai
construir um significado inerente ao fluxo dessas informações.
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