Na Noruega, depois dos atentados que mataram 77 pessoas, a venda de jogos eletrônicos violentos foi suspensa.
Num manifesto de 1.500 páginas, o assassino norueguês afirma ter usado jogos de videogame como treinamento para os atentados. Por isso, as lojas da Noruega resolveram tirar jogos violentos das prateleiras.
"Eu estou matando todo mundo, cara", diz um garoto jogando videogame. Imagina um pai que, de repente, ouve essa frase vinda da sala. É motivo pra ficar preocupado?
>> Consulte a classificação dos jogos de videogame
Os pais nem sempre sabem do que se tratam os jogos. E quando descobrem?
“Um jogo que eu especificamente detesto que ele joga mostra muita malandragem, muito assalto. Dá uma demonstração para o adolescente de como é a vida na criminalidade”, reclama a comerciante Regina de Salvi.
“Às vezes eu fico com muito medo”, diz outra mãe.
“Ele vira madrugada porque eu o deixo jogar, porque ele é bom nos estudos”, comenta o engenheiro Arlindo Oliveira.
Para a psicóloga Luciana Ruffo, os games podem impedir a violência real:
“Isso deixa que você tenha mais liberdade, vamos dizer assim, para no futuro não precisar experimentar essas coisas, porque o jogo não dá pra você uma recompensa real que valha a pena você fazer aquilo depois”.
O perigo é o jovem acabar achando que matar é normal.
“Tudo aquilo que você acaba sendo exposto de uma maneira intensiva acaba criando um ar de normalidade, de naturalidade. Então, particularmente, eu não acho interessante que um jovem fique durante várias horas brincando ou matando oponentes”, analisa o psiquiatra Cristiano Nabuco, do Programa de Dependentes em Internet da USP.
E isso pode virar vício.
“Parou de comer, de respeitar os horários, de querer estar em família, de querer sair. Começa a ter uma baixa de rendimento na escola. Essas coisa são sinais de que o pai precisa prestar atenção”, alerta Luciana Ruffo.
Mas e se pais e filhos jogassem juntos um game violento?
“Pode tentar conversar com essa criança e adolescente e tentar entender porque aquele jogo é importante; em vez de criticar, se aproxima e tenta jogar junto”, propõe a psicóloga.
“O que mais assusta é o fato de ele precisar matar para atingir o seu objetivo. Mas é do jogo, infelizmente é do jogo”, avalia o advogado Luiz Cardoso, que acabou testou um jogo com seu filho.
“Eu jogo. Parece que você está dentro do jogo, mas você tem que distinguir que aquilo ali é um jogo. Não dá vontade de sair e fazer aquilo, jamais”, conta o engenheiro Arlindo Oliveira. “Eu acho que um jogo deste não pode estimular a violência. Eu acho que vai muito da criação. Se a mãe e o pai não ensinam direito a criança, desde pequeno, daí vai estimular mesmo”.
Todo tipo de game é analisado pelo Ministério da Justiça, que faz então a chamada Classificação Indicativa - a faixa de idade recomendada para cada jogo.
“É um instrumento de informação aos pais, à família, ao responsável”, explica Alessandra Macedo,
coordenadora de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça.
Para classificar o jogo, o ministério usa vários critérios, e um deles, claro, é a violência.
“Aquela violência que às vezes o personagem pode ser machucado e ele volta à forma original, que é o que acontece muito em animação. Isso não tem impacto nenhum sobre a criança, sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente”, avalia Alessandra.
A partir daí, são cinco faixas de classificação. Por exemplo, se no game tem arma, não é recomendado para menor de dez anos. Se tem criança ou adolescente agredindo ou sendo agredidos, só pode jogar quem tem 16 anos ou mais. E se o jogo faz um elogio à violência, aí é só para quem tem mais de 18.
“O recomendável é que o pai acesse antes de jogar com a criança aquele jogo, e que decida se aquilo é ou não prejudicial ao seu filho”, diz Alessandra.
“É muito difícil hoje em dia você controlar o que o jovem faz no computador. Os pais acabam tendo a falsa noção de que se eu restrinjo o jogo na minha casa o meu filho está absolutamente preservado. E isso não é verdade, porque ele pode não fazer uso na sua casa, mas ele vai à lan house na esquina pagando R$ 2 ou ele vai à casa dos colegas”, afirma Nabuco.
“Olha, se não resolver no diálogo, você tem que partir pra uma situação mais radical, ir lá e desligar a tomada, desligar o aparelho ou guardar, esconder”, diz Luiz Cardoso, pai de um adolescente.
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