As cem linguagens da Criança

A criança é feita
A
criança tem cem linguagens
Cem mãos cem pensamentos
Cem maneiras de pensar
De brincar e de falar
Cem sempre cem
Maneiras de ouvir
De surpreender de amar
Cem alegrias para cantar e perceber
Cem mundos para descobrir
Cem mundos para inventar
Cem mundos para sonhar.
A
criança tem
Cem linguagens
(e mais cem, cem, cem)
Mas roubam-lhe noventa e nove
Separam-lhe a cabeça do corpo
Dizem-lhe:
Para pensar sem mãos, para ouvir sem falar
Para compreender sem alegria
Para amar e para se admirar só no Natal e na Páscoa.
Dizem-lhe:
Para descobrir o mundo que já existe.
E de cem roubam-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
Que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia
A ciência e a imaginação
O céu e a terra, a razão e o sonho
São coisas que não estão bem juntas
Ou seja, dizem-lhe que os cem não existem.
E a
criança por sua vez repete: os cem existem!

Loris Malaguzzi (1996)

Educar é Tudo!

Olá Pessoal,

Estou postando alguns slides construídos e apresentados ao longo do curso. Os slides podem ser vistos a seguir, caso vocês tenham algum em seus arquivos favor postar, Beijos a todas!!!

Apresentação slide Fundamentos e Didática da Matemática I

Apresentação Seminário Pesquisa e Prática Pedagógica IV

Apresentação Trabalho Estudos da Sociedade na Educação Infantil

Seminário Pesquisa e Prática Pedagógica I

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Ano XIII - Nº 51 - Educação Integral - Agosto

Entrevista

Rafael Yus

Um dos pioneiros da discussão sobre os temas transversais na educação, Rafael Yus é também um dos principais nomes quando o assunto é educação integral. Autor dos livros Temas transversais: em busca de uma nova escola e Educação integral: uma educação holística para o século XXI, ambos publicados pela Artmed, Yus é professor em uma instituição de ensino médio na região espanhola da Andaluzia. "Minha especialidade analítica são as ciências naturais, mas tento enfocá-la de forma construtivista e em torno de problemas-chave", explica. Há alguns anos, Rafael Yus vem promovendo a educação integral e, para isso, coordena em sua escola um programa de educação em valores mediante temas transversais, criando unidades didáticas integradas, cada uma das quais desenvolve um problema transversal e valores-meta. Os temas são abordados simultaneamente por professores de diferentes especialidades com um enfoque multi ou interdisciplinar. Além disso, trabalha-se, em horários de tutoria, a educação emocional, a resolução de conflitos e a educação democrática. "No momento, estou atuando para o governo na elaboração de um currículo integrado em que seja possível conseguir cotas maiores de educação integral, assim como responder ao desafio das competências básicas, que hoje não estão sendo bem trabalhadas em lugar nenhum". Leia, a seguir, a entrevista concedida por Yus à Pátio.
Qual o conceito de educação integral
que está sendo usado hoje no
mundo e quem são os autores que embasam tal conceito? 


Atualmente, entende-se por educação integral o mesmo que sempre se entendeu, pois é uma finalidade de todos os sistemas educativos de todo o mundo − e de todos os tempos − educar a pessoa em todas as suas potencialidades, não apenas as cognitivas ou intelectuais, mas também as afetivas, artísticas, espirituais, os valores, a saúde, o corpo, etc. Supõe-se que a educação deva perseguir todas essas dimensões, mas, na prática, não se costuma ir além da mera declaração retórica, politicamente correta, pois o que predomina de fato são as dimensões acadêmicas, aquelas requeridas pela universidade ou pelo mercado de trabalho. A educação integral só foi desenvolvida pelas diferentes versões da corrente chamada genericamente de "educação holística", com uma longa trajetória que vem do final do século XIX até hoje, com representantes como Rudolf Steiner, Maria Montessori, John Dewey, William Kilpatrick, Paulo Freire e Célestin Freinet, entre outros. Ela foi atualizada por autores como John Miller, James Bean, July Thomson Kleyn e Susan Drake.


Como se caracteriza a educação integral e como ela se diferencia da educação tradicional?

A educação tradicional está impregnada do pensamento analítico ou cartesiano, uma concepção mecanicista para a qual, sendo a realidade uma entidade complexa, é preciso fragmentá-la em partes − que, na escola, são representadas pelas diferentes matérias ou disciplinas. É um esquema de educação centrada no conteúdo, pois o que rege a educação é a compreensão e a memorização de teorias (às vezes também de dados), na crença de que essa cultura servirá para os estudos posteriores ou para a vida profissional. A cultura acadêmica é de tal envergadura que nunca sobra tempo (ou se dedica o mínimo possível dele) para a educação artística, a educação física, a expressão corporal, a meditação, a elucidação de valores, etc. Em suma, para as "outras" inteligências e as outras dimensões da pessoa.


Como as escolas que praticam a educação
integral chegaram a esse ponto?


Encontramos a educação integral nas escolas que paralelamente foram inovando de forma marginal na "educação holística" e que, embora de tendências muito diversas, coincidem em elaborar um currículo centrado no aluno, em que os conhecimentos são ferramentas para o desenvolvimento pessoal, para a resolução de problemas reais ou morais de uma perspectiva complexa ou sistêmica; em que se aprende a conviver, a desenvolver a inteligência emocional, a se expressar de diversas formas; em que se respeitam os estilos cognitivos pessoais. Na educação holística, o importante é o desenvolvimento integral de todas as dimensões da pessoa. E, como não há duas pessoas iguais, o currículo deve ser bastante aberto e flexível para permitir uma contínua adaptação de cada um a uma meta coletiva e cooperativa.


Hoje, no Brasil, estamos vivendo um momento de implementação da escola integral, que passa pelo aumento não só da carga horária escolar, mas também da qualificação do tempo escolar. Na sua opinião, o que é preciso para que se chegue a uma educação integral de qualidade?

A educação integral, para que tenha êxito e se generalize, não deve implicar uma maior carga horária para os professores, nem creio que isso seja necessário. Trata-se de utilizar o mesmo tempo de uma maneira muito diferente. As escolas Waldorf, por exemplo, seguem um currículo de educação holística no mesmo tempo que qualquer outra escola. Não há muitos requisitos para chegar a uma educação integral de qualidade, salvo uma boa preparação dos professores (que se pode conseguir com leituras, intercâmbios entre colegas e cursos intensivos) e um ambiente de trabalho cooperativo na comunidade educativa (que se pode conseguir com o diálogo e a potencialização do sentido de comunidade). Naturalmente, é preciso que a administração educativa não interponha obstáculos para introduzir essas inovações; melhor ainda se as potencializar.

Ao aumentar a permanência dos alunos na escola, não se corre o risco de haver uma hiperescolarização e a ausência de tempo livre?
Como a escola integral garante que exista tal equilíbrio?


Os alunos já empregam um tempo enorme de suas vidas na escola. Isso é bom, porque é um dos poucos lugares onde se pode controlar uma boa socialização e uma aprendizagem orientada por especialistas. Como disse antes, isso não deve implicar maior carga horária para os professores nem para os alunos. Não conheço em detalhe como esse processo está sendo feito no Brasil, mas seria um grave erro considerar a educação integral de forma somativa: primeiro, a escola tradicional; depois, em horários extras, as aprendizagens "menos importantes", como música, arte, educação física, etc. Se for assim, além de roubar dos alunos um tempo necessário de ócio, isso só vem demonstrar, na realidade, que não se renunciou às propostas academicistas e não se reorientou o currículo de uma forma sistêmica em torno da resolução de problemas. Continua-se acreditando que o conhecimento acadêmico é muito valioso e, portanto, é preciso empregar muito tempo para transmiti-lo.


Quais os empecilhos para discutir e implementar uma educação holística? Que desafios a educação integral precisa enfrentar?

A raridade das escolas holísticas já nos indica que há algo impedindo a generalização dessas propostas, que são, paradoxalmente, as únicas a responder de maneira prática ao princípio da educação integral que todas as escolas "dizem" perseguir. A meu ver, o principal obstáculo vem dos setores acadêmicos, particularmente da universidade. São setores que precisam justificar sua própria existência, que formam os professores de uma maneira analítica (seguindo o paradigma cartesiano) e que criam interesses reais em manter as disciplinas nas escolas, pois, do contrário, teriam de reorientar seus métodos e sua própria organização. Assim, qualquer mudança que se tente fazer na estrutura do currículo no sentido de uma concepção mais integrada choca-se com o paradigma diametralmente oposto do culturalismo que todos nós que fomos formados por uma escola e uma universidade impregnadas desse paradigma ainda temos em mente − e isso inclui também os pais e as mães, os empresários e toda a sociedade.


Como a comunidade reproduz esse paradigma?

Todos acham que qualquer tempo passado (o seu) é muito melhor e não param para pensar que estamos em outra época, na era da informação, na qual o conhecimento está a um toque de teclado e não precisa ser memorizado como antes. O que se requer agora é saber manejar essa informação copiosa para resolver problemas de modo cooperativo, em rede, e completar a formação pessoal para evitar os problemas psicossociais decorrentes da vida moderna ou simplesmente para crescer como pessoas completas.


O que é preciso para ser um educador na escola integral?

É difícil educar em uma escola integral se ele próprio, o professor ou a professora, não pensa a educação de uma maneira mais global e não põe em questão sua própria formação distorcida. Ele deve buscar novos horizontes, conhecer melhor as teorias que fundamentam a educação integral, ler os clássicos dessa linha, desde Steiner até Gardner, assistir a sessões de meditação, de dança, de dramatização, e aprender a tirar proveito das novas tecnologias para o manejo da informação. Não se trata de fazer tudo isso de uma vez, mas sim de estar aberto a viver essas experiências quando tiver oportunidade. Além disso, é importante que seja uma pessoa de diálogo, cooperativa, paciente, e que tenha claro que o importante é o desenvolvimento integral de seus alunos.

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